Panorama de câmbio: principais eventos da semana
- Fatores baixistas
- Ata da decisão Copom deve reforçar a perspectiva de juros mais altos por mais tempo no Brasil, o que pode favorecer a atração de investimentos estrangeiros e fortalecer o real.
- Expectativa por anúncio de estímulos fiscais chineses pode melhorar as projeções para o crescimento econômico do país e favorecer o desempenho de ativos arriscados, como ações, commodities e moedas de países emergentes, como o real.
- Fatores altistas
- Decisão de juros e novas projeções do FOMC devem reforçar uma percepção de que o Federal Reserve será cauteloso em seu ciclo de cortes de juros, o que favorece a rentabilidade de títulos denominados em dólar e contribui para o fortalecimento global da moeda.
Resumo da semana passada
A semana foi marcada pelo pessimismo e ceticismo de investidores quanto à condução da política fiscal brasileira, o que anulou possíveis ganhos impulsionados pela expectativa de uma sequência mais forte de altas para a taxa básica de juros (Selic). Nos EUA, dados mais aquecidos para a inflação reforçou as apostas de que o Federal Reserve deve reduzir menos e de forma mais lenta os juros americanos.
O dólar negociado no mercado interbancário terminou a sessão desta sexta-feira (13) cotado a R$ 6,023, variação de -0,8% na semana, +0,5% no mês e +24,3% no ano. Já o dollar index fechou o pregão desta sexta cotado a 107,0 pontos, ganho semanal de 1,0%, mensal de 1,2% e anual de 5,6%.
Dólar comercial (US$/R$) e Dollar Index (pontos)
Fonte: StoneX cmdtyView. Elaboração: StoneX.
O MAIS IMPORTANTE: Decisão de política monetária do FOMC
Impacto esperado no USDBRL: altista
Há elevado consenso de que o Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC) do Federal Reserve (Fed) deve reduzir a taxa básica de juros americana em 0,25 p.p., de um intervalo entre 4,50% e 4,75% a.a. para a faixa entre 4,25% e 4,50% a.a. Esse consenso parece se apoiar mais em uma percepção de que os integrantes do Comitê estariam mais inclinados a um corte de juros nesta decisão, porém é difícil de se justificar baseado nos dados mais recentes. Desde que o Federal Reserve começou seu ciclo de cortes de juros, em setembro, os indicadores americanos apontaram, de maneira geral, para uma economia mais aquecida, para um risco inflacionário mais alto e para um risco de enfraquecimento do mercado de trabalho mais baixo que o imaginado. Além disso, a maior parte dos analistas acredita que as mudanças previstas para as políticas econômicas durante o novo governo de Donald Trump podem resultar em pressões inflacionárias e forçar o Fed a diminuir menos os juros para compensar essas pressões.
Em função desse contexto, imagina-se que o comunicado da decisão e a entrevista coletiva do presidente do FOMC, Jerome Powell, devam adotar um tom mais cauteloso, realçando que não há pressa para o Federal Reserve realizar novos cortes e que a instituição observará a evolução dos dados econômicos antes de decidir a trajetória adequada para a política monetária. Além disso, e provavelmente mais importante do que a decisão em si, o Comitê atualizará suas Projeções Econômicas Sumarizadas, que devem apontar para um ritmo mais lento para a queda da taxa de juros americana em 2025, para estimativas melhores para o crescimento econômico e a taxa de desemprego e, também, para números mais aquecidos para a inflação. Dessa forma, ainda que o FOMC reduza seu juros nesta decisão, é provável que será reforçada uma percepção entre investidores de que o banco central americano deve ser reduzir menos e de forma mais gradual sua taxa de juros, o que pode impulsionar os rendimentos dos títulos do Tesouro americano e beneficiar o desempenho do dólar.
Apostas para a decisão de juros do Federal Reserve de 18 de dezembro
Fonte: CME FedWatch Tool. Elaboração: StoneX. Probabilidades no mercado futuro de juros com referência a 13 de dezembro de 2024.
EUA: Histórico e expectativa para a taxa de juros – 13 de dezembro de 2024
Fonte: CME FedWatch Tool. Elaboração: StoneX. Refere-se à aposta com maior probabilidade no mercado futuro de juros na data indicada.
Ata da decisão de política monetária do Copom
Impacto esperado no USDBRL: baixista
Na semana passada, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) surpreendeu ao mostrar uma postura ainda mais firme do que o antecipado por analistas e aumentar de forma unânime a taxa básica de juros (Selic) em 1,00 p.p. e sinalizar mais duas altas idênticas para as próximas duas reuniões (29 de janeiro e 19 de março). Alguns analistas chamaram essa decisão de um “choque de juros”, pois, embora uma parcela considerável dos investidores antecipasse a possibilidade de uma elevação de 1,00 p.p. para a Selic, não se esperava a sinalização futura (“foward guidance”) de mais dois ajustes de mesmo valor.
Em seu comunicado, o Copom aponta que a realização de apertos sequenciais e mais intensos de juros se justificam pela piora do cenário futuro de inflação, que está “menos incerto e mais adverso” e com “assimetria altista” após a “materialização de riscos inflacionários”. Esse cenário é marcado por: (i) um desempenho mais forte que o esperado da atividade econômica e do mercado de trabalho, que apresenta um risco de pressão inflacionária por conta da demanda aquecida; (ii) um enfraquecimento intenso e persistente da taxa de câmbio, que pode pressionar o nível de preços ao elevar os custos de produtos importados; (iii) uma séria crise de credibilidade da condução da política fiscal brasileira junto a investidores, que antecipam maior estímulo dos gastos públicos à demanda do país e que, por consequência, apresenta riscos de acelerar a inflação e piorar a trajetória de endividamento do país.
A ata dessa decisão, que será publicada na terça-feira (17), deve enfatizar a postura mais firme do Comitê e reforçar o compromisso do colegiado com a “reancoragem das expectativas”, isto é, que o Banco Central fará o que for preciso para estabilizar a inflação ao redor da sua meta, de 3,0% anuais, e que busca convencer os agentes do mercado financeiro a acreditarem nessa estabilização. Além disso, ela deve oferecer um horizonte mais claro de previsão para os investidores, buscando reduzir as incertezas sobre a política monetária. Essa perspectiva de juros básicos mais altos por mais tempo pode ajudar a reduzir a exigência de prêmios de risco e elevar as expectativas de rentabilidade de títulos domésticos, o que favorece a entrada de investimentos estrangeiros e contribui para a valorização do real.
Expectativa por estímulos na China
Impacto esperado no USDBRL: baixista
Na semana passada, as expectativas por novos estímulos para o crescimento econômico chinês aumentaram após um comunicado do Politburo do país afirmar que o governo vai acelerar medidas de estímulo à demanda interna e que a política monetária será “apropriadamente frouxa” em 2025, expressão que só havia sido utilizada em momentos de crises internacionais, como em 2008. Vale ressalvar, entretanto, que os indicadores chineses recentes, de maneira geral, têm apresentado um dinamismo abaixo do esperado e reforçado preocupações entre investidores de uma desaceleração mais intensa da segunda maior economia do mundo, enfrentando desafios crescentes como o enfraquecimento da demanda interna, estagnação nos índices de preços e ameaças de barreiras tarifárias por parceiros comerciais relevantes, como Estados Unidos e União Europeia. Ainda assim, embora os documentos não possuam maiores detalhes, investidores aguardam por anúncios de novos incentivos em breve, o que aumenta as perspectivas para o crescimento da demanda de commodities pela segunda maior economia global e favorece o desempenho de moedas de países exportadores de produtos primários, tal como o real.
Tramitação do pacote de medidas econômicas
Impacto esperado no USDBRL: indefinido
No Brasil, os investidores devem continuar atentos ao noticiário relacionado à tramitação do pacote de medidas econômicas do governo junto ao Congresso na última semana de sessão legislativa antes do recesso parlamentar ocorre entre 23 de dezembro e 02 de fevereiro. Na semana passada, o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL) afirmou que “acionará o modo turbo” nessa última semana, procurando garantir a aprovação de temas estratégicos, como o Orçamento de 2025, a regulamentação da reforma tributária e o pacote fiscal. Adicionalmente, o Palácio do Planalto liberou o pagamento de cerca de R$ 1,8 bilhão em emendas parlamentares para ajudar na aprovação desses temas. Contudo, reportagens de imprensa apontam para insatisfações e resistências entre deputados por conta de decisões do ministro do Supremo Tribunal Federal, Flávio Dino, ratificada unanimemente pelos demais ministros, em relação ao pagamento de emendas parlamentares. Dino bloqueou em agosto a liberação de dinheiro para essas emendas e as liberou somente no começo de dezembro, porém com ressalvas. Os parlamentares atribuem as decisões do Judiciário a uma articulação do Executivo, o que tem dificultado a aprovação de projetos do governo no Legislativo.
TABELA DE INDICADORES ECONÔMICOS
Fontes: Banco Central do Brasil; B3; IBGE; Fipe; FGV; MDIC; IPEA e StoneX cmdtyView.
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