Panorama de câmbio: principais eventos da semana
- Fatores baixistas
- Anúncio de medidas para corte de gastos no Brasil pode reduzir a exigência de prêmios de riscos para ativos brasileiros e fortalecer o real.
- Nova leitura aquecida para o IPCA-15 deve reforçar a perspectiva de um ciclo rígido de altas para a taxa Selic e favorecer a atração de investimentos estrangeiros, fortalecendo o real.
- Fatores altistas
- Ata do FOMC, PCE de outubro e efeitos da eleição de Trump devem reforçar expectativas de cortes de juros mais lentos nos EUA, fortalecendo o dólar globalmente.
Resumo da semana passada
A semana foi marcada, mais uma vez, pelo fortalecimento global do dólar, com diminuição das apostas de cortes de juros pelo Federal Reserve em função da antecipação de efeitos de possíveis mudanças pelo novo governo Trump e da divulgação de dados econômicos mais aquecidos nos EUA. No Brasil, o prolongamento da indefinição sobre o pacote de cortes de gastos pelos governo federal contribuiu para o enfraquecimento do real.
O dólar negociado no mercado interbancário terminou a sessão desta sexta-feira (22) cotado a R$ 5,814, ganho semanal de 0,5%, mensal de 0,6% e anual de 19,8%. Já o dollar index fechou o pregão desta sexta cotado a 107,5 pontos, variação de +0,8% na semana, +3,4% no mês e de +6,1% no ano.
Dólar comercial (US$/R$) e Dollar Index (pontos)
Fonte: StoneX cmdtyView. Elaboração: StoneX.
O MAIS IMPORTANTE: Pacote de corte de gastos
Impacto esperado no USDBRL: baixista
Após quatro semanas de indefinição, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que o prometido pacote de medidas para reduzir as despesas federais deve ser anunciado na próxima segunda ou terça-feira. Haddad afirmou a jornalistas que “na segunda pela manhã, nós vamos passar para o presidente a minuta dos atos [do pacote de corte de gastos], que já foram minutados pela Casa Civil. Nós vamos bater com ele a redação de um ou outro detalhe, inclusive o acordo que foi feito com [o Ministério da Defesa]. (...) Ao fim da reunião, nós estaremos prontos para divulgar [o pacote]. Faremos isso na própria segunda ou na terça, é uma decisão que a comunicação vai tomar”.
Nas últimas semanas, a indefinição e demora do Executivo em divulgar o pacote reforçou uma percepção entre investidores de que o Palácio do Planalto demonstra pouca urgência e pouca importância para a necessidade de ajustes dos gastos públicos, o que resultou em uma elevação da percepção de riscos de ativos brasileiros e prejudicou o desempenho de ativos nacionais, como taxa de câmbio do real e a taxa dos contratos futuros de juros (DI). Adicionalmente, diversos rumores sobre o tamanho e as medidas que compõem o pacote circularam durante essas semanas de indefinição, o que levou a uma maior volatilidade no desempenho desses ativos.
Adicionalmente, há dúvidas crescentes sobre a viabilidade de aprovação pelo Legislativo ainda este ano, o que contribui para essa piora da percepção de riscos. Estas medidas serão encaminhadas ao Congresso na forma de Proposta de Emenda à Constituição (PEC), o que exige aprovação em dois turnos por um mínimo de 2/3 dos congressistas tanto na Câmara dos Deputados como no Senado Federal. Contudo, O sucessivo atraso da formalização das propostas torna improvável que todo esse trâmite seja cumprido antes do recesso parlamentar, que ocorre entre 22 de dezembro e 02 de fevereiro. Assim, há uma possibilidade crescente de que as votações sobre o tema aconteçam somente a partir de fevereiro, o que atrasaria em vários meses qualquer mudança pretendida.
Apesar destas ressalvas, a divulgação do pacote pode ajudar a amenizar o ambiente pessimista dos investidores e melhorar as expectativas para a evolução das contas públicas brasileiras, o que, por sua vez, tende a reduzir a exigência de prêmios de riscos, fortalecendo o real.
Expectativa para os juros americanos
Impacto esperado no USDBRL: altista
Em uma semana encurtada pelo feriado do Dia de Ação de Graças, na quinta-feira, a ata da decisão de política monetária do Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC) do Federal Reserve (Fed) deve mostrar novamente uma postura mais cuidadosa do Comitê, reafirmando que o banco central americano continua atento aos dados e buscando ampliar o leque de opções para suas decisões futuras. Desde a decisão do dia 07, os integrantes do Federal Reserve têm argumentado que não há urgência para o FOMC reduzir juros, pois os riscos de uma desaceleração abrupta da atividade econômica diminuíram e estão em maior equilíbrio em relação aos riscos de uma inflação mais persistente nos EUA. Além disso, os dados mais recentes para os EUA apontam para uma economia mais aquecida, o que reforça a percepção de que o Fed irá ser paciente e gradual em seu ciclo de cortes de juros.
Nesse sentido, o Índice de Preços de Despesas de Consumo Pessoal (PCE), medida mais utilizada pelo Federal Reserve para acompanhar inflação no país, deve repetir a alta moderada de setembro em outubro, com crescimento de 0,2% no índice cheio e de 0,3% em seu núcleo, que exclui os voláteis componentes de alimentação e energia. Essa projeção, se confirmada, reforçaria a leitura de que a estabilização de preços nos EUA está perdendo ritmo e, portanto, de que não há urgência para cortes de juros pelo Fed.
Por fim, vale ressaltar que investidores antecipam que mudanças nas políticas econômicas durante o novo governo de Donald Trump podem resultar em pressões inflacionárias maiores e em aceleração do endividamento público nos EUA, também contribuindo para a leitura de que os juros americanos irão diminuir menos e mais lentamente que o antecipado. Estes três fatores, por sua vez, podem reduzir ainda mais as apostas de investidores para cortes de juros pelo Fed, o que impulsiona os rendimentos dos títulos do Tesouro americano e beneficia o desempenho do dólar.
Apostas para a decisão de juros do Federal Reserve de 18 de dezembro
Fonte: CME FedWatch Tool. Elaboração: StoneX. Probabilidades no mercado futuro de juros com referência a 22 de novembro de 2024.
EUA: Histórico e expectativa para a taxa de juros – 22 de novembro de 2024
Fonte: CME FedWatch Tool. Elaboração: StoneX. Refere-se à aposta com maior probabilidade no mercado futuro de juros na data indicada.
IPCA-15
Impacto esperado no USDBRL: baixista
As projeções para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15) mostra nova leitura aquecida, passando de uma alta de 0,54% em outubro para cerca de 0,50% em novembro. A reaceleração recente do IPCA, a piora das expectativas inflacionárias pelos investidores, o pessimismo em relação ao ajuste das contas públicas e o desempenho melhor que o esperado para o crescimento econômico e para o mercado de trabalho levaram a uma postura mais rígida do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, o que, por sua vez, consolidar uma perspectiva de altas firmes para a taxa básica de juros (Selic) nos próximos meses. Isto, por sua vez, favorece a expectativa de rentabilidade de títulos domésticos e contribui para a atração de investimentos estrangeiros, fortalecendo o real.
TABELA DE INDICADORES ECONÔMICOS
Fontes: Banco Central do Brasil; B3; IBGE; Fipe; FGV; MDIC; IPEA e StoneX cmdtyView.
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