Comentários de Abertura
Os mercados despencaram durante a noite com o início da guerra tarifária de Trump, mas muitos já se recuperaram bem de suas mínimas nesta manhã, com alguns próximos das máximas da sessão e até alguns mercados em território positivo. O foco hoje está principalmente em tentar determinar os vencedores e perdedores dessa guerra comercial, enquanto Wall Street também acompanha de perto dados-chave do mercado de trabalho que serão divulgados ainda esta semana, incluindo o relatório mensal de empregos. O índice VIX está sendo negociado próximo de 19 nesta manhã, refletindo a tensão elevada causada pelas tarifas, enquanto o dollar index subiu significativamente, sendo cotado próximo de 109,2, após atingir um pico de 109,9 durante a noite. Os títulos de 10 anos do Tesouro dos EUA estão sendo negociados em torno de 4,51%, enquanto os títulos de 2 anos estão em 4,24%. Os preços do petróleo bruto subiram devido à perspectiva de menores importações em função das tarifas, enquanto os mercados de grãos e oleaginosas caíram na maior parte, mas ainda acima das mínimas da sessão.
O presidente Trump cumpriu sua ameaça na noite de sábado ao assinar uma declaração impondo tarifas de 25% sobre produtos vindos do Canadá e do México e de 10% sobre produtos da China. Uma exceção notável foi que o petróleo bruto canadense será taxado em apenas 10%. Muitas refinarias do Meio-Oeste dos EUA são projetadas para processar o petróleo bruto pesado do Canadá, o que praticamente as obriga a continuar comprando esse petróleo na ausência de alternativas viáveis. O Canadá respondeu imediatamente divulgando uma longa lista de tarifas retaliatórias de 25%, enquanto o México deve anunciar suas próprias tarifas ainda hoje. A China já indicou que entrará com uma queixa na Organização Mundial do Comércio (OMC). A Europa está se preparando para as tarifas que deverão ser aplicadas contra seus produtos. Vale lembrar que essas tarifas são aplicadas sobre as importações, o que significa que tudo o que os EUA importam do Canadá, do México e da China será afetado. Nenhum desses países pode sustentar essa situação por muito tempo. Já as exportações dos EUA só serão afetadas caso sejam incluídas nas tarifas retaliatórias dos países importadores. A lista de tarifas retaliatórias do Canadá é bastante abrangente, mas ainda não se sabe o que será incluído na lista do México. A Reuters havia relatado anteriormente que a lista mexicana seria menor, com tarifas de 5%, 10% e 20%, mas isso pode ter mudado.
Os mercados cambiais tendem a fortalecer a moeda dos países que se espera que lidem melhor com a guerra tarifária, enquanto as moedas dos países que deverão sofrer maiores impactos econômicos tendem a enfraquecer. Como resultado, houve forte venda do dólar canadense e do peso mexicano hoje. Os mercados chineses estão fechados devido ao feriado do Ano Novo Lunar, mas o yuan offshore sofreu uma desvalorização. No entanto, todas essas moedas já recuperaram parte das perdas nesta manhã, ao mesmo tempo em que o dólar norte-americano recuou do pico atingido durante a noite. A força do dólar aumenta o poder de compra dos EUA no exterior, ajudando a compensar o custo das tarifas. Por outro lado, a desvalorização do dólar canadense, do peso mexicano e do yuan aumenta a dificuldade para esses países quando impõem tarifas retaliatórias sobre importações, ao mesmo tempo que facilita a exportação de seus produtos para os EUA, mesmo com tarifas.
A abordagem da China em relação às tarifas de Trump me parece interessante. Até agora, a China não anunciou tarifas retaliatórias, afirmando apenas que entrará com uma queixa na OMC, um processo que pode levar anos – ou, pelo menos, muitos meses – para ser resolvido. Para mim, isso indica que a China não deseja escalar a guerra comercial, pois não pode se dar ao luxo de fazê-lo. Mas também vejo isso como um sinal de que podemos estar nos aproximando de um acordo comercial com a China. É importante lembrar que a China já cobra tarifas sobre praticamente tudo o que importa há muito tempo. Os EUA estão apenas tentando igualar essa prática. A China importa grandes volumes de commodities, desde soja e petróleo bruto até minério de ferro. No entanto, sua economia é amplamente baseada na exportação de bens de consumo. As commodities norte-americanas estão caras para os compradores chineses devido à valorização do dólar, mas a China pode considerar vantajoso pagar mais caro por esses produtos em troca de condições tarifárias mais favoráveis para seus bens de consumo exportados aos EUA. A resposta da China até agora mantém essa possibilidade aberta.
Os mercados agrícolas estão tentando entender os impactos das tarifas. A maior preocupação é a possível perda das exportações de etanol para o Canadá e das exportações de carne suína, milho, soja, farelo de soja e trigo para o México. O México importa mais da metade da carne suína que consome, sendo a maior parte proveniente dos Estados Unidos. Cerca de 25% a 30% da produção anual de carne suína dos EUA é exportada, e 40% desse total tem como destino o México. O México também importa aproximadamente 925 milhões de bushels de milho dos EUA por ano, e esse volume continua aumentando. Além disso, é o segundo maior importador de soja dos EUA, além de importar grandes quantidades de farelo de soja, trigo e outros produtos agrícolas. Essa situação certamente terá um efeito inflacionário no México, o que sua economia não pode suportar neste momento. Ainda acredito que um acordo será alcançado para reduzir essas tarifas com o Canadá e o México, mas pode levar mais tempo do que eu previa, especialmente porque Trump agora também está focando no fator de desequilíbrio comercial. Os preços do trigo de primavera dos EUA subiram nesta manhã devido à expectativa de menor fluxo de exportação do Canadá, enquanto os preços da aveia dispararam. A grande questão a ser respondida é se o México retaliará aplicando tarifas significativas sobre os produtos agrícolas que importa dos EUA e qual será o impacto disso nos embarques para o país.
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