As tarifas são o assunto em Wall Street neste final da semana e do mês, com a iminente data-limite do presidente Donald Trump para aplicar pesadas tarifas punitivas sobre as importações provenientes do Canadá, México e China chegando amanhã, a menos que esses países concordem com seus termos para deter o fluxo ilegal de migração e de drogas através das fronteiras dos EUA. Trump agora também inclui os déficits comerciais na discussão. No meio disso tudo está a divulgação dos dados de inflação nos EUA desta manhã. O índice VIX opera perto de 15 nesta manhã, depois de cair para seu nível mais baixo em uma semana, enquanto o dollar index se firmou perto de 108,3. Os rendimentos dos títulos do Tesouro americano de 10 anos negociam a 4,52%, subindo e depois caindo com os dados de inflação desta manhã, enquanto os de 2 anos encontram-se perto de 4,21%. Os preços do petróleo estão mistos, enquanto os mercados de grãos e oleaginosas ficaram sob pressão de venda ativa durante a noite.
A renda pessoal dos EUA aumentou 0,4% no mês em dezembro, correspondendo às expectativas dos analistas, mas ficando acima do crescimento de 0,3% em novembro. As despesas pessoais aumentaram 0,7% no mês a mês em dezembro, acima das expectativas de crescimento de 0,5%, e acima dos 0,4% do mês anterior. Isso se encaixa com o relatório do PIB de ontem, mostrando um aumento notável nos gastos do consumidor no quarto trimestre, já que o sentimento do consumidor se recuperou após a eleição, pelo menos até recuar um pouco em janeiro. O índice de preços PCE subiu 0,3% no mês em janeiro, mais uma vez correspondendo às expectativas dos analistas, mas o aumento também foi maior do que o de 0,1% em novembro. Na comparação anual, o índice de preços PCE aumentou 2,6% em dezembro, correspondendo às expectativas, mas novamente acima dos 2,4% registrados no mês anterior. O núcleo do índice de preços PCE, que exclui os setores mais voláteis de alimentos e energia, subiu 0,2% no mês em dezembro. Como você já deve ter adivinhado, esse valor correspondeu às expectativas, mas ainda assim foi superior aos 0,1% do mês anterior. O núcleo do índice de preços PCE cresceu 2,8% em relação ao ano anterior em dezembro, correspondendo às expectativas e ao ritmo do mês anterior.
Portanto, os gastos do consumidor dos EUA foram fortes em dezembro, mais fortes do que o esperado. A inflação aumentou em dezembro, mas o ritmo de aumento era esperado. Outros dados mostraram que os custos de emprego aumentaram 0,9% em relação ao trimestre anterior no quarto trimestre de 2024, também de acordo com as expectativas. Isso colocou a inflação salarial em 3,8% em termos anuais, ligeiramente abaixo dos 3,9% registrados no terceiro trimestre do ano. As pressões inflacionárias estão aumentando modestamente. A questão que se coloca para o Fed é se isso é uma aberração em um padrão de tendência de baixa ou se é indicativo de um problema mais estrutural. Há argumentos válidos em ambas as direções, embora minha tendência seja a última.
Receios com relação às tarifas ou simplesmente a compensação contábil do final do mês. A venda noturna de grãos e oleaginosas teve um pouco de ambos, mas os medos em relação às tarifas foram uma parte significativa do enfraquecimento no fechamento do mês de janeiro. As políticas públicas são muito parecidas com a fabricação de salsichas. Nunca são tão limpas e bonitas como gostaríamos que fossem. A política comercial se torna ainda mais confusa, pois mistura a negociação do que é melhor para os interesses de cada nação envolvida com as fortes personalidades dos líderes que os ajudaram a chegar a seus cargos de liderança. Não há como argumentar que Trump gosta de usar seu cargo como um púlpito de intimidação para fazer as coisas. Às vezes, isso funciona bem e, às vezes, cria o caos. Porém, ele também gosta de usar esse caos para atingir seus objetivos. O caos faz parte de sua estratégia.
Justin Trudeau é o primeiro-ministro do Canadá desde 2015. Sua economia está em dificuldades e seus números de aprovação são baixos. Isso o coloca em desvantagem nas negociações com Trump. O presidente americano o tratou como “governador do 51º estado” para aproveitar essa fraqueza. Claudia Sheinbaum Pardo tornou-se a primeira mulher a ocupar o cargo de presidente do México em outubro de 2024. Os cartéis detêm um poder significativo no México. Seu papel nisso será debatido, mas, independentemente disso, ela não pode parecer fraca diante de seu povo ao confrontar Trump. No entanto, ela, assim como Trudeau, sabe que seu país não pode se permitir uma guerra comercial com os EUA. Sendo assim, precisamos separar o que acontece nos bastidores do que é dito na mídia. Sheinbaum declarou ontem que não achava que Trump levaria adiante as tarifas, depois que ele recuou de sua ameaça à Colômbia no último fim de semana. Então, isso significa que ela duvida da seriedade do presidente ou que planeja atender discretamente às exigências de Trump, como fez o presidente da Colômbia? Infelizmente, sua declaração pública de dúvida pode levar Trump a aplicar as tarifas, pelo menos temporariamente, independentemente do que esteja acontecendo nos bastidores. A Reuters divulgou uma lista de produtos aos quais o México está considerando aplicar níveis variados de tarifas retaliatórias caso Trump implemente as suas. Essa lista inclui produtos suínos, queijos, maçãs, uvas, batatas, cranberries, uísque Bourbon, aço manufaturado e alumínio, mas não inclui autopeças, milho, soja, trigo, etc., que prejudicariam profundamente sua economia. O Canadá provavelmente adotará uma abordagem semelhante, mas está mantendo sua lista em segredo por enquanto. Trump também disse que está considerando deixar de fora de sua lista de tarifas alguns produtos que prejudicariam a economia dos EUA, como o petróleo canadense. O resultado final é que os mercados de commodities enfrentarão o risco de manchetes durante o dia de hoje e, provavelmente, durante o fim de semana, quando as bolsas estarão fechadas. Dessa forma, os traders de grãos e oleaginosas se inclinaram para o lado vendido durante a noite, protegendo sua exposição ao risco.
